Registros antigos de crianças abandonadas

Última atualização: maio de 2021

A triste história dos bebês, crianças abandonadas, que eram deixadas na “ruota dei proietti”

Imagina descobrir que seu antepassado italiano foi uma criança abandonada pelos pais?

Não é raro nos depararmos com registros de nascimento de “esposti” quando estamos pesquisando pelos antepassados dos nossos clientes.

Era muito comum naquela época, o abandono de recém-nascidos. Foram aproximadamente 40.000 crianças abandonadas por ano à caridade pública ou privada na Itália. Só na “Ospedale degli Innocenti” de Florença, entre 1762 a 1862, foram abandonadas mais de 16.500!

As crianças eram deixadas na “ruota” como se dizia em Nápoles, na “scafetta” como se dia em Veneza e ainda no “presepe” como se dizia em Florença.

A “ruota dei proietti” era um dispositivo giratório de forma cilíndrica onde o recém-nascido podia ser colocado sem que ninguém da parte interna do edifício pudesse ver quem o estava colocando lá dentro.

local de abandono
Ruota dei proietti

Fazendo girar a “ruota”, a criança era retirada pelo lado interno do edifício. Na parte externa havia um sino que servia para sinalizar a presença da criança dentro do dispositivo.

local de abandono
Ruota dei proietti

A pessoa encarregada de acolher e prestar os primeiros cuidados ao recém-nascido, uma mulher (normalmente uma freira), em certos casos, dava à criança um nome de batismo como parece ser o caso deste registro de nascimento que localizamos durante uma pesquisa.

registro italiano
Registro de nascimento de MELANTONI MARIANTONIA. Atto di nascita n.15 anno 1884 – Comune di Campobasso. Fonte: Archivio di Stato di Campobasso.

A criança foi registrada com o prenome MARIANTONIA e o sobrenome MELANTONI, declarado pela senhora GAETANA FELITITÀ “ricevitrice dei proietti”, ou seja, a pessoa que a recebeu na “ruota”.

registro italiano
Registro de nascimento de MELANTONI MARIANTONIA. Atto di nascita n.15 anno 1884 – Comune di Campobasso. Fonte: Archivio di Stato di Campobasso.

Tal senhora declarou que às 18h do dia nove do mês corrente (março) encontrou a menina deixada na “ruota dei proietti”.

Nem sempre a criança abandonada tratava-se de um filho ilegítimo (fora do casamento), muitos abandonados eram de filhos legítimos cujo os pais não havia meio para sustentá-los.

crianças abandonadas
Humanitäts-Anstalten, Carl Ernst Bock, 1859.

Alguns pais deixavam um sinal de reconhecimento da criança na esperança de poder encontrá-la um dia como a metade de uma moeda ou um pequeno lenço bordado cortado ao meio; Um pedaço ficava com os pais e o outro era deixado dentro da “ruota” com a criança.

Sinal múltiplo de reconhecimento: saquinho em tecido e metade de cinco centavos. Fonte: Archivio dell’Ospedale degli Innocenti di Firenze.

Às vezes os pais deixavam na “ruota” um bilhete onde indicavam o prenome e sobrenome a ser dado à criança. Em caso contrário, eram-lhe atribuídos sobrenomes.

Alguns sobrenomes indicavam claramente a condição de abandono da criança: Esposto, Esposti, Esposito, Donati, Fallaci, Orfano, Proietti, Sposito, Spositi, Trovatelli, Trovato, Ventura, Venturelli, Venturini.

Por vezes o sobrenome conferido a criança se referia ao local que a acolheu como por exemplo, “Innocenti”, aos acolhidos pela “Ospedale degli Innocenti” de Florença.

acolhimento de crianças abandonadas
Sala de estar das enfermeiras. Fonte: Archivio dell’Ospedale degli Innocenti di Firenze.

Existem ainda, sobrenomes conferidos por instituições religiosas que a acolhiam a criança como: Dioguardi, Casadei, Vescovi, Di Dio.

O tema é extenso e amplamente estudado por estudiosos de onomástica mas, voltando ao início do artigo, se no momento da sua pesquisa genealógica você descobrir que seu antepassado italiano foi registrado sem citação de pai e mãe, saiba: sua cidadania italiana ainda sim pode ser reconhecida. Procure um profissional especializado para analisar sua documentação e orientá-lo como proceder.

Conheça neste artigo o caso de pesquisa do italiano Costantino Basso, uma criança italiana registrada como Esposto, com pais ignorados.

Por Bárbara Ferreira
Gerente de Pesquisas do Diário

4 comentários Adicione o seu

  1. Rodrigo Rosas Fernandes disse:

    Ao que tudo indica, minha bisnona Anacleta Raimondi nasceu no dia 12 de julho de 1875 no Hospital de Schio. Nome Camilla N.N. Não sei onde e como recebeu o nome Annacletta Raimondi. É certo que após o parto foi levada para um orfanato em Vicenza. É possível saber onde ela foi registrada? Neste caso o sobrenome indica alguma coisa?

    1. Barbara Ferreira disse:

      É possível sim. Provavelmente a Instituição que a acolheu conserva o registro de entrada dela. Este artigo pode ajudá-lo na pesquisa: https://it.wikipedia.org/wiki/Storia_delle_istituzioni_assistenziali_di_Vicenza
      Raimondi é um sobrenome com muitas variações, presente em todo território italiano.

  2. Ana Nugoli disse:

    Meu antenato e seu irmão foram abandonados em um orfanato também, se não me engano na região de Toscana.

  3. helaine silva disse:

    Que tristeza!

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